Uma verdadeira experiência gastronômica nunca é despretensiosa: envolve sentimento, entretenimento, cultura e as mais diversas sensações. É sempre em volta de uma mesa que famílias se reencontram, amigos confraternizam, paixões se iniciam e amores se fortalecem.
Na tradição gastronômica da Itália, esse é o verdadeiro sentido da fartura. Não se trata de quantidade, mas do complexo jogo de significados que envolve o ato de comer. Para os italianos, uma refeição é traduzida pela simplicidade, desde a combinação entre ingredientes até o clima do ambiente, que convida ao relaxamento e conexão consigo mesmo.
Não à toa, esse conceito foi bastante explorado no filme Comer, Rezar, Amar, estrelado pela atriz Julia Roberts. Na história, a protagonista Liz tira um período sabático para viajar pelo mundo e redescobrir o sentido da vida. Um dos destinos mais marcantes foi a Itália, onde a comida tornou-se centro de muitas reavaliações pessoais.
Extasiada com tantas novidades, Liz interpretou a fartura com sua “mentalidade americana” do excesso. Comeu muitas vezes até passar mal até descobrir que a chave da experiência gastronômica era aproveitar a vida pelo singelo e verdadeiro prazer: buscar a companhia de pessoas especiais, cultivar o espaço para o ócio e para aprendizados aparentemente “inúteis” na gestão da vida prática.
Se você tem um restaurante com temática italiana, pode trabalhar para expressar toda essa riqueza no posicionamento do seu negócio e da sua marca. Essa atmosfera pode ser explorada tanto no cardápio quanto na forma de servir, nos utensílios e na decoração italiana.
Vamos apresentar a seguir conceitos dessa cultura gastronômica e mostrar como adaptar a ambientação do seu restaurante para transformá-lo em uma espécie de oásis italiano no Brasil!
O dolce far niente na experiência gastronômica
Dolce far niente é uma das expressões italianas popularizadas no filme Comer, Rezar, Amar. Significa “a doçura de não fazer nada”, em alusão à necessidade de ter espaço para si, sem culpa, em meio a tantas obrigações. Esse espaço deve ser relaxante, sem compromisso com o passar do tempo, e prazeroso a ponto de limpar a mente e renovar as energias.
No clima de dolce far niente não há espaço para a comida rápida e pratos complexos, com muitos ingredientes misturados. A experiência gastronômica precisa ser demorada e intensa, porém simples, aguçando todos os sentidos — olfato, paladar, tato, visão e audição.
Por isso, o self service e o fast food não fazem muito sentido para o italiano mais tradicional, extremamente crítico e exigente à mesa. Os ingredientes precisam estar sempre frescos e os pratos serem servidos separadamente, bastante variados — engana-se quem pensa que a gastronomia italiana está concentrada nas massas.
A arte de comer devagar e intensamente
Em geral, uma típica refeição italiana é dividida em 5 fases: antipasto, primo piatto, secondo piatto, contorno e dessert. Cada fase exalta um sabor específico em pratos que reúnem diferentes protagonistas com, no máximo, 8 ingredientes diferentes.
O antipasto representa o aperitivo da entrada, que deve ser servido em pequenas quantidades para instigar o paladar rumo aos pratos principais. Depois, o primo piatto, ou primeiro prato, exalta alguma pasta (massa), risotto ou minestre (sopa).
Já o secondo piatto sempre destaca uma proteína, que pode ser algum tipo de carne, ovos ou peixes, juntamente ao contorno (acompanhamentos como legumes e verduras). Por fim, é chegada a hora do dessert, a sobremesa, sempre finalizada com o il caffè espresso tradicional.
Dá para sentir que a apreciação de toda essa refeição leva tempo: entre o preparo de um prato e outro, sempre teremos uma boa conversa e um bom vinho para aguçar o paladar e a vontade de continuar vivendo intensamente cada momento.
A importância do conforto
Já que uma experiência gastronômica italiana é essencialmente demorada, o conforto do mobiliário é imprescindível. E as boas expectativas com um restaurante começam, sem dúvida, quando o cliente se senta em uma cadeira diferenciada: nesse caso, ela deve ser estofada e não muito estreita para favorecer uma boa acomodação. Depois, é só adequar o design à proposta do ambiente.
Outro fator que interfere no conforto é a disposição das mesas e cadeiras. O cliente precisa ter mobilidade e conseguir interagir com todos os outros membros da mesa. Assim, no caso de confraternizações que envolvam mais de quatro pessoas, o ideal é investir em modelos de mesa redonda, com bastante espaço para acomodar pratos e taças e favorecer a interação.
I colori d’Italia: as melhores combinações
Um restaurante típico da Itália tem como base decorativa as cores de sua bandeira nacional: verde, branco e vermelho. Por um lado, cores tão fortes representam vivacidade e energia, que têm tudo a ver com a proposta conceitual italiana. Por outro, a associação de cores vibrantes em um restaurante costuma estimular a rotatividade, que não combina com experiências gastronômicas demoradas.
Assim, o ideal é escolher uma cor predominante entre as três possíveis e explorar as demais em outros elementos mais minimalistas da decoração. O colorido de encher os olhos e dar água na boca deve ficar por conta — apenas! — da comida.
Procure não dar o mesmo destaque para o verde e o vermelho ao mesmo tempo. Apenas o branco, que é neutro, pode ser associado sem problemas. Você se lembra da típica toalha de mesa quadriculada em vermelho e branco, ou verde e branco, por exemplo? O charme italiano está presente nesses detalhes!
Mas, se você optar pelo branco como cor predominante, pode se inspirar na ambientação toscana e deixar o vermelho e o verde para plantas e flores que vão trazer um cheirinho de natureza para o ambiente — efeito obtido também pelas referências rústicas, que veremos a seguir.
O inebriante clima de casa della nonna
Uma típica decoração italiana tem um estilo mais rústico, com muitos elementos artesanais. Tijolos especiais, móveis de madeira, utensílios feitos à mão e objetos garimpados em brechós não podem faltar no ambiente. Podemos dizer que trata de uma visão bem parecida com a casa da vó italiana, a famosa nonna, verdadeiro ícone da culinária mundial.
A casa de la nonna tem sabor de cuidado com os mínimos detalhes. Tem cheiro de massa fresca, tempero e molho caseiro. Tem um mobiliário tradicional refletindo seus anos de sabedoria e experiência que se manifestam na comida e nas histórias de vida que conta para os netos enquanto cozinha.
O carinho, nesse contexto, é o prato principal, figurado nas refeições demoradas, tanto no fazer quanto no degustar — como a massa que amassa e descansa, repetidas vezes, esperando crescer e chegar ao ponto de ser saboreada. A nonna é o grande símbolo de integração e confraternização familiar; em torno dela tudo acontece.
Essa aura traduzida na ambientação de um restaurante transporta os clientes para as lembranças mais singelas. Um restaurante com ares de antiguidade e aromas de comida caseira sempre vai representar esses anos de experiência que deixam a comida mais gostosa e a vida mais rica.
Na prática, você pode também incorporar il fascino del vino dos italianos usando garrafas recicladas como vasos de flores, luminárias, base para velas, entre outras aplicações. Inspire-se na rusticidade das rolhas para explorar outros elementos à base de cortiça. Disponibilize nas mesas moedores de madeira para pimentas, sal e queijos, ressaltando o frescor dos ingredientes.
Busque sempre referências que capturem essa atmosfera! Uma decoração italiana precisa ser como uma história contada com tanta riqueza de detalhes a ponto de transportar os clientes para outro país. Finalize a experiência com uma música ambiente tradicional, em volume suficiente para não atrapalhar a conversa, e buon appetito a tutti!
Gostou das nossas sugestões? Compartilhe este artigo nas suas redes sociais e convide outras pessoas para saber mais sobre a transformadora cultura gastronômica italiana!